Quinho. Assim era chamado por todos. O apelido era de infância. De Marcos, virou Marquinhos e então chegou a Quinho. E assim, ao longo da vida, foi sendo passado a quem lhe conhecesse. Era o Quinho.
Quinho vivia feliz. Havia passado por algumas experiências ruins ao longo da vida, como qualquer pessoa. Havia chorado muito, mas finalmente era feliz. E a felicidade vinha de onde menos se espera, do trabalho e da solidão. Era feliz como engenheiro. Trabalhava feliz em meio a plantas, réguas e cálculos. E o melhor para ele, trabalhava, na maior parte do tempo, sozinho.
E estar sozinho era algo que ele gostava. Havia optado por isso depois de algumas desilusões com a vida, com as pessoas, melhor dizendo. A decisão era justamente essa. Passar o maior tempo possível sozinho.
Não por isso deixava de ter vida social. Muito pelo contrário. Por ocupar um cargo de importância na sua empresa, volta e meia estava envolvido em jantares, reuniões ou algo do tipo.
Para esse tipo de situações, assim como para todas as outras do dia-a-dia que envolviam convivência com outras pessoas, porém, havia desenvolvido uma técnica. Nada demais. Algo bem comum na verdade. Quinho "vestia" sua máscara social. Havia aprendido com o tempo. Não podia se esconder, nem evitar o convívio. E para não ser desprezado, achou nessa técnica a solução.
Então, diariamente, antes de sair de casa, vestia sua máscara e encarava o mundo. Mas encarava com sorrisos e alegria, coisas que não faziam parte da sua verdade. Fingia. Fingia com a maior cara de pau do mundo, mas não por mal. Fazia isso até mesmo para não causar má impressão, nem incomodar ninguém.
E assim a vida ia passando. Por mais incrível que pareça, Quinho fez amigos, e até mesmo atraiu olhares femininos. Mas não deixava nada ir além da sua máscara. E por mais que muita gente o perguntasse sobre sua solidão e afirmasse que seria feliz se deixasse isso de lado, ele sabia que era o caminho certo para si. Nunca antes na sua vida havia tido tanta certeza de algo.
Mas, de tanto ouvir de pessoas "próximas" que um dia o melhor seria deixar alguém entrar na sua vida, ultrapassar a barreira que havia construído com o tempo, acabou se deixando levar. E assim, em um belo dia, Quinho cometeu um erro que mudaria sua vida para sempre. Apaixonou-se.
Perdidamente apaixonado ele estava. Sua vida, só e pacata, calma e de certeza, transformou-se. Vivia e pensava 24 horas na pessoa. Passou a mudar sua rotina, fazer o que podia para aproveitar a presença do alvo de sua paixão.
E por alguns dias, envolto naquela atmosfera contagiante que só a paixão pode formar, Quinho chegou a acreditar que sua vida se transformaria. A solidão havia chegado ao fim. A máscara ficaria de lado, esquecida em um canto do quarto, e ele seria enfim uma pessoa normal. Teria enfim um motivo para sorrir de verdade, para viver de verdade. E realmente foi assim que as coisas aconteceram por alguns dias.
Ah o amor. Sentimento de tanta força. Havia devolvido a vida a Quinho. Assim ele pensava, caminhando com um sorriso no rosto, pelas ruas da pequena Novo Horizonte.
Mas a decisão de Quinho, pela solidão, não havia sido em vão. Demorou poucos dias para voltar a ter pesadelos com a realidade que lhe era imposta. A paixão, muito mais que a convivência com a pessoa desejada, fazia com que Quinho fosse exposto. Seus sentimentos, suas sensações, suas emoções ficavam a flor da pele. Afinal, é isso que acontece com os apaixonados. Mas Quinho não lidava bem com essa complexidade de sentimentos, e por este motivo havia optado pela solidão.
Grande erro cometera ao imaginar que agora poderia ser diferente. A felicidade da solidão havia dado lugar ao êxtase da paixão, que em pouco tempo deu lugar à dor das paranóias do jovem. E assim, pouco a pouco ele foi piorando. Logo, a paixão passou a ser um fardo para Quinho.
Os dias se arrastavam lentamente. Dormir era um sacrifício, acordar, mais ainda. Passava os dias buscando formas de desviar o pensamento, até que um dia ouviu uma frase na TV.
"A morte é a única solução para todos os problemas" - Joseph Stalin.