terça-feira, 22 de setembro de 2009

17 de setembro de 2005

Este texto nasceu há cerca de uma semana, mas infelizmente neste período, fui acometido mais uma vez por aquela preguiça de escrever e ele acabou relegado. Porém hoje, me senti com vontade novamente e aí vai a obra... hehehe...
O dia 17 de setembro de 2005 ficará marcado para sempre na minha memória e, infelizmente, por algo muito triste que se passou. O dia em que perdi um ente muito querido e que a forma como tudo aconteceu, me deixa arrependido de algumas decisões até hoje. Vamos aos fatos.
Como já escrevi em outros textos, morei muito tempo com meus avós e por isso mesmo acabei criando uma admiração e um respeito muito grande por eles, além do carinho que sempre existiu, pela forma como cuidavam da família. Nesta mesma época, me encontrava estudando em uma cidade vizinha e jogava basquete com os antigos companheiros do time da escola. Sendo assim, passava minhas tardes de sábado na quadra. Era uma das atividades que mais me davam alegria. Ainda nesta época, meu avô mantinha a "tradição" de a cada ano realizar uma reunião, uma vez por ano, na sua fazenda para a marcação do gado e quem sabe um pouco dos costumes gaúchos vai saber do que estou falando. Pois bem, com esta breve contextualização, creio que posso ir em frente no relato.
No dia 17 de setembro de 2005, um sábado, meu avô ia realizar mais uma vez esta "celebração" e como de costume toda família iria estar presente, inclusive minha avó, que há poucos dias atrás havia dado um grande susto em todos, quando teve de ser hospitalizada. Eu, por causa do basquete, resolvi não ir e fui o único a ficar na cidade.
Passei a tarde inteira na quadra, "fomeando" e à noite, antes de ir embora, passei na casa da minha então namorada. Depois de algum tempo lá, me encaminhei pra casa. Não lembro ao certo que horas eram, mas recordo que já havia anoitecido.
Cheguei em casa e encontrei minha avó sentada no sofá da sala comendo algumas laranjas e assistindo TV. Meu avô estava deitado já, talvez cansado pelo dia agitado, e minha mãe, que na época também morava na casa, estava no seu quarto. Fiquei ali por algum tempo e a vó resolveu ir para o quarto dormir. Nos despedimos como de costume e ela se foi. Alguns minutos depois, não posso precisar o tempo, mas sei que foi pouco, comecei a ouvir um barulho vindo do seu quarto. Era a voz da minha mãe e a princípio não dei bola. Até que ela veio até a sala e deu a notícia que mudou aquela noite. "Pedro, tua vó está passando mal...". Gelei! Minha primeira reação foi ir até o quarto e ver o que se passava. Ao chegar vi uma imagem que não sairá jamais da minha cabeça. Minha avó, sentada na cama, ofegante, como se tivesse corrido quilômetros. Me assustei. Corri de volta para a sala para ouvir as instruções de minha mãe. Conforme solicitado, liguei para a casa de minhas tias na busca por alguém que tivesse um carro disponível para levar a vó até o hospital, já que meu avô não podia. Na falta desta possibilidade, saí correndo de casa. Precisava achar um táxi o mais rápido possível e fui atrás. Na esquina da praça, a duas quadras de casa, encontrei, e rapidamente expliquei a situação. Nos encaminhamos até em casa. A última cena que pude ver da vó viva, foi ela saindo pela porta, sendo praticamente carregada pela minha mãe... os minutos que se seguiram foram de apreensão, até a chegada de um das minhas tias. Me recordo que ao chegar a porta e me deparar com ela, não precisou ser dito nada. Sua expressão anunciava a tragédia. Não acreditei. "Não...não é verdade..." foram as palavras que disse antes de começar a chorar e ir para meu quarto...
Bem, os momentos seguintes foram de tristeza para toda a família e no velório acabei sabendo, ao conversar com primos e tios, que naquele sábado, dia 17 de setembro de 2005, minha avó tinha passado um dia feliz, dando muita risada com todos que foram à marcação. "Parecia estar se despedindo..." era o que falavam...
Nunca vou me perdoar por ter optado por ficar em casa naquele dia. Se tem algo que me arrependo nessa vida é de não ter tido a oportunidade de ficar com ela, nas suas últimas horas alegres. Hoje, tudo o que resta, é a saudade e o carinho que vou levar para sempre comigo. Cada vez que volto a minha cidade, lembro da forma carinhosa como ela me recebia, quando eu estudava em Alegrete e voltava todos os finais de semana para casa. Parecia não me ver há meses. Sempre vinha com os braços abertos e um carinho que parecia não ter fim. Nunca vou me perdoar por não ter dado um último abraço. Não ter visto seus últimos sorrisos. Não ter demonstrado o quanto era importante para mim...
Aprendi a valorizar mais os momentos com as pessoas queridas. Infelizmente não posso estar perto de todos, principalmente da minha família, já que moro longe, mas sempre busco aproveitar ao máximo os poucos momentos que passamos juntos. Não quero errar novamente.
Tente fazer o mesmo. Sei que é difícil, às vezes, já que todos temos nossos compromissos e obrigações, mas é a melhor coisa a fazer. Tente demonstrar àqueles que lhe são importantes, o quanto os quer bem. Faça isso no seu dia-a-dia. Não espere por uma data em especial. Aproveite cada minuto ao lado dessas pessoas, como se fosse o último. Não que devas ser pessimista, apenas dedicado.
Eu queria ter aprendido isso, antes daquele dia 17 de setembro de 2005, para poder ter passado aquelas horas junto de minha querida avó. E hoje, me esforço para não repetir este mesmo erro.

Este texto é apenas uma forma de dizer o quanto sinto saudade da dona Leonor Mendes Giumelli. Uma mulher de fibra, que dedicou sua vida a fazer o bem e a cuidar do seu marido e de sua família. Uma mulher que me ensinou a ser uma pessoa melhor. Uma mulher que brigava, dava bronca, quando achava necessário, mas que mostrava o mais puro amor por seus entes queridos. Uma mulher exemplar e que será para sempre, a minha vozinha...

4 anos de saudade...

Um comentário:

  1. E ai. Bah, show de bola o texto. Imagino como deve ter sido para ti tudo isso. Eu, certa vez, em 2006 (na véspera do Inter e Barcelona) - resumindo a história, porque toda ela daria páginas - tive meu pai literalmente morto em meus braços em uma igreja durante o casamento de uma prima, aqui em Poa, com os olhos esbugalhados e completamente roxo. O resto são flashes de filme de terror: ele estendido no meio da igreja com um cara dando porradas no seu peito. Para a nossa sorte, o cara das porradas era enfermeiro de emergência do Hospital Conceição, e reanimou ele. Depois, foi correria, só lembro da gente indo de carro para o hospital, invadindo pista de ônibus na contramão. Até hoje não posso nem lembrar, mas desde então, procuro fazer isso que você fala not texto: sempre que posso, procuro ficar o máximo de tempo com todos. Parabéns aí. Belo texto.

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