quarta-feira, 27 de julho de 2011

Novos rumos

Neto andava de um lado a outro do quarto sem saber o que fazer. Sua vontade era desistir. Desistir de tudo, desistir da vida. Não sabia bem de onde vinha aquele sentimento, porque estava assim. Mas era a vontade que tinha.

Impaciente e agitado, sentiu-se incomodado pelo barulho da televisão ainda ligada. Foi até ela e desligou. Voltou até a cama, mãos na cintura, lábios retraídos, testa enrugada, olhando para o chão. Sentou-se por um momento na cama e olhou para sua esquerda. A janela do apartamento, ainda aberta, lhe apresentava a vista da cidade, agora silenciosa graças ao avançado da hora.

Não conseguiria dormir, pensou. Levantou-se novamente, olhou para um velho relógio de parede que marcava 4h47. Estava tarde, mas mesmo assim, espichou o braço até uma estante e pegou um molho de chaves. Dirigiu-se, decidido, até a porta do apartamento. Sentia-se preso ali dentro, sem ar. Precisava respirar, pensar, achar uma saída. 

Abriu e fechou a porta com cuidado para não incomodar os vizinhos. Da mesma forma desceu as escadas e abriu a porta que o levou até o hall de entrada do prédio. Seguiu em frente, caminhando em direção ao portão. Passou em seu caminho pelo porteiro. Um senhor de cabelos brancos, que àquela altura, estava recostado em sua cadeira, uma pequena televisão ligada a sua frente. No silêncio da madrugada, o barulho da TV misturava-se ao ronco do "Seu Zé", como o porteiro era chamado pelos moradores. "Dormindo hein...", pensou Neto ao passar pelo local tentando fazer o mínimo de barulho para não ser percebido.

Passou pelo portão e pisou na calçada. Sentiu a brisa da madrugada gelada. A chuva, que cessara há poucos minutos, podia voltar a qualquer instante, mas ele não ligava para isso. Olhou para um lado e para o outro. Como esperado, a rua estava deserta. Fechou seu casaco, enfiou as mãos nos bolsos e voltou a caminhar. Para onde? Nem ele sabia. Apenas caminhava.

A paisagem a sua volta era conhecida, afinal, passava por ali todos os dias a caminho do trabalho. A diferença é que desta vez estava sozinho. Ou pelo menos parecia estar.

Seguiu em frente a passos largos, determinados, olhando para o chão. Sentiu os primeiros pingos de chuva tocando em sua cabeça, mas não cogitou retornar. Cobriu a cabeça com o capuz e continuou caminhando. Andou sem pensar para onde ia. Queria apenas caminhar, sem pensar, sem planejar, sem lembrar...

Passado algum tempo, sentiu-se cansado. Olhou para o relógio em seu pulso. Passava das 5h30 da manhã. Neto havia caminhado por quase 45 minutos. A paisagem já não era a mesma. Ele nem bem sabia em que parte da cidade se encontrava. A chuva continuava a cair, fraca, mas teimosa. Estava encharcado. Olhou em frente e na primeira esquina dobrou à direita. Não fazia ideia de onde iria parar ao dobrar ali, mas seguiu caminhando.

Aos poucos seus pensamentos voltaram a procurar uma explicação para aquilo que estava sentindo. Por que? Era a pergunta que se fazia, sem saber a resposta.

Algumas quadras a frente, dobrou novamente, dessa vez para a esquerda. Caminhou por cerca de 20 minutos e percebeu que entrara em uma rua sem saída. Mais alguns passos e parou. Estava diante de um muro alto. Olhou para o obstáculo a sua frente. Não via como ultrapassá-lo. De súbito sorriu. Era assim que se sentia em sua vida: preso, sem saída. 

Olhou para a direita e viu casas simples. Girou a cabeça para a esquerda e contemplou paisagem semelhante. Voltou a fitar o chão e ali ficou, parado, olhando para o asfalto molhado. Depois de um tempo voltou a olhar para o muro a sua frente. Sorriu e olhou para trás.

Deu meia volta. Olhou em frente e voltou a caminhar. A chuva havia parado e a escuridão da noite começava a dar lugar aos primeiros sinais do amanhecer. Os passos agora eram lentos e o semblante preocupado dera lugar a uma expressão de satisfação. Sentia sono, sentia fome, sentia cansaço, mas ao mesmo tempo sentia-se forte. Não iria desistir. Precisava voltar e tentar um novo caminho, pensou ele, mas não para aquela caminhada na madrugada fria. Essa já havia terminado.

21 comentários:

  1. tu eh o neto? eu sou hehehe belo texto, bjoss

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  2. Gostei. Fiquei até o fim pra saber o que ia acontecer.
    Um abraço moço.

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  3. Muito bom. Será que o Neto realmente não sabia de onde vinha essa sentimento? ..rsrsrsrs
    Todos nós temos um momento como o do Neto um dia!

    Abço...

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  4. o neto é tuh, o Neto é eu, o Neto tbm pode ser vc.

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  5. Caroool...

    Te identificou com o personagem é? que coisa não... trate de procurar novos caminhos então moça. =)

    Que bom que gostou do texto.

    bjo bjo! =)

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  6. Oi Luciano!

    Obrigado por voltar ao blog. Aposto que esperava que fosse acontecer algo com o personagem...

    teve gente que reclamou porque não aconteceu nada, digamos, trágico... hehe

    Enfim... volte sempre.

    Abraço!

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  7. Anônimo '1'

    Olha... eu acho que não sabia... ou sabia... vai saber... hehehe

    e realmente, acho que todos passamos por isso em algum momento de nossa vidinha... Cabe a cada um achar a melhor saída, ou o melhor caminho.

    Obrigado pela visita e pelo comentário, mas podia se identificar das próximas vezes né.

    Enfim... Abraço!

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  8. Anônimo '2'

    Hahaha... siiim... o Neto pode ser qualquer um... porque, como disse antes, acho que todo mundo passa por isso um dia.

    Valeu pela visita, mas também podia ter se identificado né.

    Enfim...Abraço!

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  9. Vou lançar uma campanha aqui.

    é o "Se for comentar, te identifica, vivente!".

    hahahaha... sério mesmo... muito melhor quando os comentários são identificados.

    Mas não se intimidem. Gosto dos comentários, só acho que fica melhor com a "assinatura".

    Obrigado pela compreensão de todos! ;)

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  10. Essa de assinatura...nem todos gostam de dar a cara, mas se os coments foram super bem e educados, tudo bem, o pior é quando é o inverso..por isso tenho meu blogue trancado, elas, só podem ser umas elas e eu sei quem são, davam cabo da cabeça ao mais forte.
    beijitos e venha ler a poesia que me escreveram..que baril.

    beijitos e Bom Domingo.

    laura

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  11. laurinhaa... sempre bom te receber aqui, embora nem tenha comentado do texto neh... hehehe

    Sim, se os comentários fossem agressivos e desrespeitosos seria pior realmente. Mas eu gosto de ver quem comentou justamente pra eu poder responder... hehehe

    Já li a poesia... tá arrasando corações hein... hehehe

    Abração e boa semana pra ti, Laurinha!

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  12. Então, gosto dessa sensação de liberdade que caminhar traz. Às vezes, sair, andar um pouco e respirar ar puro ajuda a clarear as ideias.
    Quando costumava correr, eu saía às vezes apenas para procurar respostas, como se elas, supostamente, estivessem fugindo de mim (hehehehe).
    Adorei o texto!

    Bjs

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  13. Uau, Mr. Gomelli! Novo visual no seu espaço! Quanto ao texto, gostei muito. E me identifiquei bastante com o Neto. Às vezes, passo por esse momento que o Neto vivenciou. Parece ruim, mas não é. Até digo que é uma necessidade de a gente parar e sair caminhando por aí sem rumo, sem objetivo. No fim, encontra sem querer (ou queria sem força) uma luz para a vida. E nessa caminhada sem rumo eu sinto mais a presença de Deus em minha vida e reconheço o quanto preciso Dele. Um abração da Lu!

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  14. July July \o/

    Andas sumida hein... hehe...

    pois é... essas caminhadas são boas mesmo... já experimentei também... na verdade, tudo que ajude a gente a refletir um pouco sobre a vida, ajuda bastante...

    só não vai seguir o exemplo do personagem e sair caminhando de madrugada por Floripa que é perigoso hein...

    Vê se aparece mais seguido moça, e seu mocinho ou mocinha junto... hehe... logo saberemos.

    Abração!

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  15. Oi Lu... tava na hora de mudar o visual né... hehehe... espero que tenha agradado. =)

    Pois é mesmo tchê... volta e meia nos sentimos assim meio sem saída... e muitas vezes uma caminhada despreocupada nos ajuda a encontrar novos caminhos... hehe

    Só de madrugada que é meio perigoso neh... hehehe... não vai copiar o personagem hein... se for caminhar, caminhe de dia... hehehe

    Abração moça! Volte sempre! =)

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  16. Digo caminhar pela vida quando queremos iniciar novos caminhos longe do lugar onde estivemos antes, muitas evzes a vida nos cutuca em frente e vamos parar ao lugar que temd e ser, mas enquanto não sabemos, vamos cmainhando até que o amanhã, apareça.

    beijinhos da laurinha meio sumidinha e abandonando a net devagarinho..são 5 anos de blogue...dia a dia, hein!...

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  17. Olá (:
    É, acho que eu esperava algo a mais com o personagem, trágico talvez rs ... mas adorei o texto.
    Simples, reflexivo ^^

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  18. Laurinhaa...

    Vais abandonar o blogue? o_O

    não faça isso, moça... vai nos deixar órfãos dos teus textos e poesias... hehehe

    Abração pra você, moça! =)

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  19. Olá, Mônica!

    Sempre bom ter novos visitantes aqui no blog. Seja bem-vinda viu...

    Tu não foi a única que esperou algo de trágico com o coitado do Neto... hahaha...

    mas que bom que no fim acabou gostando igual.

    Enfim, mais uma vez, bem-vinda e volte sempre viu!

    Abraço, moça!

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  20. Concordo com o comentário da Laura .. Mesmo chegando no lugar que tem que ser não devemos parar de caminhar pra chegar onde queremos!

    E parabéns pelo texto .. muito bom, bem detalhado.. Me senti um "Neto" lendo ele!
    Continue escrevendo ..

    Abraços

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  21. Mais um anônimo... hehehe

    então, olá "Anônimo". Obrigado pela visita.

    Que bom que gostou do texto.

    Se puder se identificar nas próximas vezes eu agradeço... hehe.

    Enfim... obrigado pela visita e volte sempre!

    Abraço!

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